Pelo gorro que ela usava
"Chapeuzinho Vermelho" era chamada.
Com a mãe ela morava
numa casinha de branco caiada.
Visitando a avó, um dia
ela encontrou um lobo disfarçado.
Que susto, que correria!
É o que vai nesta estória contado.
Ao lado da estrada que ia para a vila, havia uma casinha muito bem cuidada. Todos que passavam admiravam a ordem e a limpeza do lugar: a casa estava sempre bem varrida, havia vasos de gerânios na janela, e um cheiro bom de comida gostosa saía pela chaminé. Naquela casinha, junto com a mãe, morava Chapeuzinho Vermelho, uma menina muito boazinha. Tinha esse nome porque usava sempre uma capinha vermelha com um capuz, que lhe ficavam muito bem, deixando-a ainda mais corada e viçosa. A avó de Chapeuzinho Vermelho, que morava sozinha do outro lado da vila, ficava muito contente quando a neta ia visitá-la. Chapezinho Vermelho gostava de brincar no jardim, ao redor da casa, onde havia sempre borboletas esvoaçando entre as flores e passarinhos cantando nos arbustos.
O gato também brincava com ela, mas, quando sentia cheiro de comida, ele entrava correndo e ficava rodeando a mãe de Chapeuzinho Vernelho, até ganhar algum bocado.
Um dia, a mãe de Chapeuzinho fez umas coisas gostosas e chamou a menina: — Filhinha, venha cá. Apronte-se para sair.
— Hum! Esse bolo deve estar uma delícia! Posso provar um perguntou Chapeuzinho Vermelho.
— Não minha filha, há outro para nós. Este eu fiz para sua avozinha, que está doente, de cama. Você vai até a casa dela, levar o bolo, estas rosquinhas e este pote de geléia — disse a mãe de Chapeuzinho, Vermelho, arrumando tudo numa cesta e cobrindo com um guardanapo.
Depois entregou a cesta à menina, dizendo:
— Tenha cuidado, minha filha. Não vá pelo caminho da floresta…
— Já sei. mamãe — interrompeu Chapeuzinho — O caminho da floresta é muito perigoso. É melhor ir pela estrada que atravessa o campo.
— Isso mesmo, minha filha. E não fale com estranhos!
— Já sei — disse a menina. — Nao devo falar com desconhecidos, principalmente com o lobo, porque ele é muito mau.
— E gosta de comer crianças!
— Nao me esquecerei — prometeu Chapeuzinho Vermelho.
Chapeuzinho Vermelho partiu contente: ia dar um belo passeio.
Havia borboletas pelo caminho, e às vezes algum coelhinho cruzava a estrada, correndo de um lado para outro.
Chapeuzinho Vermelho distraiu-se com as borboletas. Viu uma amarela, brilhante, e foi seguindo-a.
A borboleta pousou numa moita de margaridas-do-campo, tão lindas que a menina resolveu colher um buquê para levar à avó.
Havia muitas, cobrindo o chão como um tapete. Colhendo uma aqui, outra ali, Chapeuzinho foi entrando na floresta sem perceber.
Dona Coruja, acordando com aquela imensa folia
reclama — Que é iso!? Dançando! Não sabem que durmo de dia!?!
E o coelhinho diz: — Bom dia! Correm os bichos da floresta: tatu, veado, paca e cutia, recebendo a menina em festa.
— Chapeuzinho Vermelho, você não devia ir pela outra estrada? — perguntou a coruja.
— Eu? Sim… é que… estava colhendo flores para fazer um ramo para a vovozinha
A coruja tornou a falar:
— Cuidado, Chapeuzinho Vemelho! o Lobo Mau anda por aí. Se ele vê você sozinha na floresta…
A coruja nao tinha acabado de falar, e o lobo saiu de uma.
moita. Tinha o focinho tão grande, os olhos tão acesos os dentes tão agudos, que metia medo.
Assim que o viam, os coelhinhos e até as rãs e os sapos saíam correndo.
— Ora, vamos ver o que está acontecendo por aqui. Sinto cheiro de gente. Quem será? — rosnou ele.
O lobo aproximou-se um pouco mais para espiar.
— Ah, é uma menina! E se nao me engano, é Chapeuzinho Vermelho! — disse o lobo para si mesmo. — Vou chegar mais perto, bem devagar, para nao assustar a menina.
— Bom dia, Chapeuzinho, como vai? E o que leva nessa cesta? — perguntou o lobo, com a voz mais macia que pôde.
A coruja nao tinha acabado de falar, e o lobo saiu de uma.
moita. Tinha o focinho tão grande, os olhos tão acesos os dentes tão agudos, que metia medo.
Assim que o viam, os coelhinhos
e até as rãs e os sapos saíam correndo.
— Ora, vamos ver o que está acontecendo por aqui. Sinto cheiro de gente1. Quem será? — rosnou ele.
O lobo aproximou-se um pouco mais para espiar.
— Ah, é uma menina! E se nao me engano, é Chapeuzinho Vermelho! — disse o lobo para si mesmo. — Vou chegar mais perto, bem devagar, para nao assustar a menina.
— Bom dia, Chapeuzinho, como vai? E o que leva nessa cesta? — perguntou o lobo, com a voz mais macia que pôde.
— Vou à casa da vovozinha, levar-lhe um bolo, rosquinhas e geléia que a mamãe fez.
— E onde mora sua avozinha?
— A vovozinha mora perto do moinho, na última casa da vila. Mas por que você quer saber? — perguntou a menina.
— Bem… é que… Vamos fazer uma aposta? — disse o lobo, mudando de assunto.
— Que aposta? — perguntou a menina, desconfiada.
— Vamos ver quem chega lá primeiro? E sem esperar resposta, o lobo saiu correndo pela floresta.
Chapeuzinho Vermelho não imagina que o lobo tivesse um plano, que só mesmo um lobo muito mau poderia ter. Num instante o lobo tinha chegado à cada da avozinha, enquanto Chapeuzinbo Vermelho se demorava pelo caminho, colhendo flores e seguindo o vôo das borboletas.
— Preciso dar um jeito de entrar sem que a velha desconfie de nada. Vou bater à porta como se fosse Chapeuzinho Vermelho.
— Tóc, tóc, toc!
— Quem é? — perguntou a avozinha.
— Sou eu. Chapeuzinho Vermelho ! — respondeu o lobo, imitando a voz da menina.
— Que aconteceu com você Chapeuzinho? Porque está com a voz tao grossa ? — perguntou a boa velhinha
— E que… eu estou rouca! respondeu o lobo.
— Entre, querida, — disse a a avó. — A porta está aberta.
O lobo não esperou segundo convite. Entrou correndo e de um salto atirou-se sobre a pobre avozinha, e a engoliu inteira, sem mastigar. A velhinha nem teve tempo de perceber o que estava acontecendo.
Depois o lobo pôs na cabeça a touca da velhinha e enfiou-se debaixo das cobertas, fingindo que era a avó, e ficou esperando Chapeuzinho Vermelho.
Dali a pouco chegou a menina, com um belo ramo de flores. Bateu à porta alegremente, e entrou, dizendo:
— Olhe, vovó, que lindas flores colhi no caminho para lhe trazer !
— Oh, obrigada! Mas o que você tem aí na cesta? — perguntou o lobo.
— Que é isso, vovozinha? Você está com a voz tão grossa!
— Oh, não é nada! E porque
estou doente! — disse o lobo.
— Trouxe-lhe um bolo, rosquinhas e geléia, que a mamãe mandou — disse Chapeuzinho Vermelho.
— Sim, querida. Ponha tudo em cima da mesa e venha sentar aqui, perto de mim.
Quando Chapeuzinho Vermelho aproximou-se da cama, achou que a avó estava muito esquisita naquele dia.
— Vovó, como seus braços estão peludos hoje! E como sao compridos! — disse a menina, assustada.
— São para abraçar você — respondeu o lobo.
— E que orelhas enormes! — tornou a dizer a menina.
— São para ouvir tudo que você diz — respondeu o lobo.
— Mas que olhos tão grandes, vovó!
— São para ver como você é bonita! — disse o lobo.
— Mas, vovó, que dentes grandes e afiados você tem!
— São para comer você! — disse o lobo. E saltou da cama sobre a menina.
Mas o lobo, com a avó dentro da barriga, estava muito pesado. Não conseguiu dar o pulo de sempre, e enroscou as pernas na colcha da cama. Chapeuzinho teve tempo de fugir e esconder-se dentro do guarda-roupa. O lobo tentou abrir pelo lado de fora, mas nao conseguiu.
— Essa não! — resmungou ele. — Eu queria comer a menina de sobremesa!
O lobo sentou na frente do guarda-roupa para esperar a menina sair de lá. Mas logo sentiu sono e resolveu deitar na cama da avó para dormir.
O lobo, quando dormia, costumava roncar alto. Estava roncando, fazendo um barulhão, quando passou por ali um caçador. Curioso, o homem abriu a janela da casa para ver o que estava acontecendo lá dentro.
Desconfiado, não acredita:
— Essa não é a Vovozinha. Lobo de touca, laço e fita? É porque engoliu a velhinha!
Vou matá-lo com um tiro certo. Faço uma boa pontaria… E era uma vez um lobo esperto, que de maldade morria!
Com um tiro certeiro, o caçador matou o lobo.
— Há muito tempo eu queria fazer isto! — exclamou. — Finalmente, chegou o dia…
Quando o caçador entrou na casa, Chapéuzinho Vermelho saiu de guarda-roupa e contou o que tinha acontecido. Mais que depressa o caçador abriu a barriga do lobo com uma enorme tesoura. A avozinha pulou para fora, vivai Só estava um pouco sufocada:
— Que susto! — exclamou a velhinha. — Estou até com falta de ar.
Chapéuzinho Vermelho abraçou a avó, dizendo:
— Agora pode ficar sossegada, vovozinha, não há mais perigo.
As duas agradeceram ao caçador por ter salvo a avozinha a tempo. Depois o convidaram para comer, junto com elas, o bolo e, os doces que a mãe de Chapeuzinho Vermelho mandara.
Quando os moradores da vila souberam que o lobo tinha morrido, ficaram muito contentes.
Mas quem ficou mais feliz ainda, foram os coelhinhos, os cervos e todos os bichinhos da floresta.
E desse dia em diante, Chapeuzinho Vermelho pode correr atrás das borboletas e colher flores, sem medo do lobo.
Passado aquele perigo
foi realizada uma grande festa.
Todo mundo agora é amigo, já não existe lobo na floresta,
ele jaz, ali, no chão.
Mas Chapeuzinho aprendeu a lição.
Contexto histórico , literário e psicológico:
Contexto Histórico: Charles Perrault , escritor Francês do século XVII, ele participou da Academia Francesa de letras, trabalho como advogado e arquiteto das construções do Rei Sol Luís XVI. Na sua atuação como contista e poeta, criou várias adaptações de histórias da tradição oral transformadas em contos escritos divulgados como ‘’Contos da mamãe gansa’’.
Contexto Literário:Os contos de Charles Perrault são realistas, apresentam um maniqueísmo entre os personagens principais heróis e vilões , pois os primeiros permanecem mesmo através de situações conflituosas criadas pelo os segundos ou por si mesma conseguem permanecerem bons e conseguir a vitória ou não no final.
Os segundos buscam ofuscar a vitória dos primeiros com provocações , vencendo temporariamente e perdendo ou não no final. Assim acontece em Chapeuzinho Vermelho de Perrault, a desobediência da menina em relação a mãe é considerada como algo impuro e inaceitável por isso morta com a avó pelo avó e o elemento heróico caçador ser negado totalmente da história , aliás o autor considera no final um aviso contra a pedofilia , de as meninas jamais aceitarem conselhos de estranhos que ofereçam coisas erradas á estas, se não haverá morte delas como a de chapeuzinho aconteceu por esses motivos.
Os Contos de Perrault possuíam uma redação simples e fluente, as histórias eram adaptações literárias que traziam ao final conceitos morais em forma de verso. Essa perspectiva promove, desde a fase inicial, na chamada Literatura Infantil, a existência de um teor pedagógico associado ao lúdico. Os contos possuem um maniqueísmo moral entre as personagens heróis (nobres, clérigos, fadas e anjos) e vilões (bruxos e demônios),que respectivamente representam personagens principais e secundários.(COELHO, Nelly Novaes.2000,pp.100-101)
Em Perrault, o lobo triunfa , devorando Chapeuzinho e que o próprio Charles Perrault acrescenta uma moral, já citada no capítulo anterior, em que demonstra características do lobo como sendo alguém que deve ser temido, que se demonstra gentil, amável, sereno, mas que é muito perigoso e astuto, podendo enganar as meninas indefesas. (NEVES ,p.5-6,2011)
Chapeuzinho Vermelho de Perrault , ensina que atitudes boas geram finalidade boas, atitudes ruins geram finalidades mas, nessa Concepção Griminiana Chapeuzinho Vermelho é salva por ser uma menina inocente ao cair na lábia do lobo, apesar de desobedecer sua mãe , o castigo não poderia ser morta após ser engolida pelo lobo, já que nessa visão o lobo é o único vilão maquiavélico, o único a merecer a morte, além do que a menina e sua avó após serem resgatadas do corpo do lobo ajudam o caçador a costurar e colocar pedras no corpo do lobo, esperando ele acordar e cai morto no rio, com o peso das várias pedras colocadas em seu organismo, a historia é clara só avó e sua netinha saberiam costurar .
Contexto Psicológico: Se percebe que há três instancias psiquicas de Sigmund Freud no conto Chapeuzinho Vermelho de Perrault , O Id , a instância do prazer , O Ego é o controlador entre as prazeres e vontades do Id e do Super-ego e o Superego é relativo as exigencias sociais.
O Id constitui o reservatório da energia psíquica, é onde se localizam as pulsões da vida e de morte. As características atribuídas ao sistema inconsciente , na primeira teoria, são, nesta atribuída ao id. É regido pelo principio do prazer. (FURTADO,T e BOCK, p.99,2001).
Chapeuzinho se encontra em sua casa , sem nenhum conflito para resolver, é paparicada por sua mãe, chora, esperneia , vive uma vida sem absorviçôes ou puniçôes mas estática ao mundo a sua volta.
O Ego é o sistema que estabelece o equilíbrio entre as exigências do Id, as exigências da realidade e as ordens do superego. Procura dar conta dos interesse das pessoa. É regido pelo principio da realidade, que com o principio do prazer, rege o funcionamento psíquico. É um regulador, na medida em que altera o principio do prazer para buscar a satisfação considerando as condições objetivas da realidade. Neste sentido, a busca do prazer pode ser sustituida pelo evitamento do desprazer. As funções básicas do ego sâo: percepção, memória, sentimentos , pensamentos. (FURTADO,T e BOCK,p.100,2001)
Chapeuzinho Vermelho se encontra com o bosque e floresta, o bosque que ela deve sequir pois a sua mãe , mandara ela ir para levar doces e remédios á sua avó e a floresta que é o caminho mas perto e perigoso , nessa circunstância , a menina se ve obrigada a decidir entre obedecer sua mãe ou obedecer seus instintos e razões.
O Superego origina-se com o complexo de Édipo, a partir da internalização das proibições, dos limites e da autoridade. A moral, os ideais são funções do superego. O conteúdo do superego refere-se a exigências sociais e culturais.(FURTADO,T e BOCK , p.100,2001)
Nessa fase é que ela precisa além de entender as diferenças entre pecados ou virtudes, certo ou errado, ela deve aceitar seu destino ao obedecer sua mâe ou a si mesmo, nesse caso de Perrault é descrito sua morte.